História Verídica

Na festa de anos do meu sobrinho Joviscondino, estava na rua quando me aparece uma senhora a chorar e muito. Aqui o Tobias é um macho sensível pelo que perguntou o que se passava. O progredir do diálogo foi o seguinte:

1) Numa primeira fase, a senhora disse "O meu filho foi enterrado hoje, dê-me dinheiro!".

Fiquei maravilhado com a lógica da senhora. Se o filho é enterrado, precisa de dinheiro. Será que não chegaria o que iria poupar com o filho..? Ele enterrado não me parece que crie grandes despesas apesar de agora já haver televisões com SporTv em tudo o que é sítio.

Desde esse dia passei a usar a lógica da senhora, por exemplo:
"Estou com um formigueiro na virilha, dê-me dinheiro!"
"O meu pai nasceu meio javali, meio camelo, dê-me dinheiro!"
"Está de chuva, dê-me dinheiro!"
"----------, dê-me dinheiro!"

Mas o Tobias não é insensível e perguntou o que é que a senhora precisava...

2) A senhora quer dinheiro porque "vim visitar uma tia minha muito doente a Lisboa e preciso de dinheiro para voltar para Mirandela". Isto tudo numa tremenda choradeira.

Calculo que Mirandela exista. Uma verdade. Mas a coincidência! Logo no dia em que foi visitar uma tia em Lisboa o filho foi ali enterrado. Ao menos poupou dinheiro em transportes, só veio a Lisboa uma vez e tratou de tudo.

E não é de pessoa séria comprar um bilhete de ida e não precaver dinheiro para o de volta. Aliás, toda a gente que quer poupar dinheiro compra bilhete de ida e volta. Mas isso é o menos, nem toda a gente acabou o primeiro período da primeira classe como eu.

Ora tias há muitas pelo que não me comoveu. Ao constatar isto...

3) "Ajude-me, o meu filho acabou de cair do 7º andar e partiu o pescoço, venha ali ajudar!" e mais à frente no choro "Dê-me dinheiro...".

Primeiro ponto, gosto do "cair" do sétimo andar, dito daquela maneira até diria que acontece menos vezes do que um gajo se magoar a jogar à bola. E cair do sétimo andar, ou o gajo é estúpido, ou é estúpido ou então é cego e tem janelas baixas. Inclino-me mais para a segunda hipótese.

Segundo ponto, o gajo não desiste! Já tinha sido enterrado naquele dia e mesmo assim foi saltar do sétimo andar só para chatear a mãe. Bandido. Quando voltar para casa vai apanhar tantas...

Terceiro ponto, épa, acho que se o gajo caiu do sétimo andar não foi só o pescoço que partiu. Desconfio.

Último ponto, e o dinheiro? É para quê? O puto come metal ou papel? Se calhar levantava-se mais rápido com 5€ na tromba não.

O Tobias começou a desconfiar. Mau! Então falar na tia é mais importante que ir logo ajudar o filho? Então e o "amor de mãe"? Para honrar a minha tatuagem virei costas e fui embora. A senhora ficou calmamente sentada num degrau a fumar um Português Suave.

Toda esta história é verídica, excepto o nome do meu sobrinho (chama-se Reginanderson) e a minha tatuagem que não diz "amor de mãe" mas sim "livin' la vida loca 4ever".

Moral da história: não saltes do sétimo andar depois de teres já estado enterrado e teres uma tia doente! Isso não vai ajudar a tua mãe a ter uma viagem à pala para Mirandela.